Maria Elisa Carvalho Barbosa

A medicina chinesa entrou na minha vida em março de 1987. Eu ainda cursava o quinto período de medicina na UFMG, quando vi o anúncio de um curso de Acupuntura, promovido pelo Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina.

Nesta época, eu não tinha a menor idéia do que era a Acupuntura, assim como a maioria dos meus colegas e professores. Eu já me interessava pela Homeopatia, com o seu conceito de energia vital, por ter uma visão mais ampla do paciente, da doença e do tratamento. Imaginei que, de alguma forma, a medicina chinesa deveria parecer com esta visão. Foi com esta ilusão que iniciei meu primeiro curso de Acupuntura e um universo maravilhoso se revelou para mim.

Eu sempre senti falta da filosofia, que deveria existir por trás da medicina, mas que foi totalmente esquecida na nossa formação. Quando comecei a estudar a medicina chinesa fiquei fascinada. Vi como a filosofia permeava cada passo, desde os princípios fundamentais até o diagnóstico e o tratamento. Pude perceber como esta abordagem relacionava o homem, o céu e a terra formando um único conjunto.

Lembro-me vivamente quando comprei minhas primeiras agulhas e disse para mim mesma que havia encontrado o caminho que iria seguir. Aquele curso foi um fracasso de público, mas um sucesso para mim. A partir dele, eu passei a estagiar na clínica da dor do Bias Fortes (anexo do Hospital das Clínicas), tratando os casos mais complicados somente com Acupuntura. Foi nessa época que pude vivenciar seus efeitos terapêuticos, que tratavam não só a dor, mas agiam no quadro geral do paciente.

Em 1989, no último período da faculdade, resolvi requerer junto ao CNPq uma bolsa de estudos na China. Ainda me sentia insegura em relação aos meus conhecimentos e a Acupuntura, nessa época, sofria muito preconceito no meio médico (que está bem melhor hoje, mas ainda longe do ideal), apesar dos ótimos resultados obtidos com este tratamento.

Meu requerimento foi indeferido porque eu não tinha pós-graduação, no caso, a residência médica. Assim que me formei, iniciei residência de psiquiatria e requisitei novamente a bolsa de estudos. Dessa vez foi concedida e assim fiz o curso de aperfeiçoamento em Medicina Chinesa no Tianjin College of TCM, com uma bolsa de estudos sanduíche Brasil-China, por dois anos e meio. Foi uma experiência singular imergir na cultura chinesa e adquirir vasta experiência de tratamento com as diversas terapias da medicina chinesa.

Logo após retornar, a Prefeitura abriu concurso para médico acupuntor. Vi nessa oportunidade uma forma de levar o tratamento a uma população que não teria acesso à Acupuntura. Fiquei muito feliz ao ver que foi uma técnica terapêutica prontamente assimilada pela população e, desde a sua implantação, centenas de pessoas têm se beneficiado dela.