Nina
Teresa Brina
Iniciei
a Faculdade de Medicina da UFMG em 1978. Desde o tempo da graduação,
já me perguntava sobre o sentido do adoecer, insatisfeita com a
visão de que a doença tem uma causa determinada, e que devemos,
principalmente, curar, ou seja, nos livrarmos da doença. Como primeira
busca de uma resposta, comecei a acompanhar um grupo de estudo sobre homeopatia.
No final do curso de medicina, me dediquei aos estágios clínicos
curriculares, e após a graduação fiz a residência
de pediatria. Mas após esse início de experiência
clinica, mais ainda vi meus questionamentos retornarem: por que numa mesma
situação, pacientes tem reações tão
diversas? Porque tratar infecções repetidas que retornam
tantas vezes de novo? Onde está a gênese do adoecer? Não
teria como atuar num nível mais precoce? Na constituição
individual de cada paciente, em vez de esperar novo adoecimento e tratar
os sintomas?
Busquei então o curso de Homeopatia do Instituto Mineiro de Homeopatia
(1987-1988), e lá vi muitas de minhas questões respondidas,
e um novo caminho de entendimento e de abordagem do paciente e seu adoecer.
Nesta ocasião, através de alguns colegas, conheci a Antroposofia:
ciência espiritual iniciada por Rudolf Steiner no início
do século XX, na Alemanha, que resgata a visão de ser humano
constituído de corpo, alma e espírito; um microcosmo que
está relacionado com o macrocosmo, com as forças da natureza
em que está inserido. Estes conhecimentos da Antroposofia podem
ter várias aplicações práticas: na saúde
- medicina, enfermagem, odontologia, psicologia -,na pedagogia, arquitetura,
agricultura, artes, etc. Como nesta época trabalhava com crianças
e recém-nascidos, muitas vezes tinha dificuldade de abordar os
casos clínicos com as bases da homeopatia unicista e busquei a
formação em Medicina Antroposófica, através
de curso da Associação Brasileira de Medicina Antroposófica
(1990-1991) e a antroposofia me trouxe outros recursos diagnósticos
e terapêuticos, que não apenas o medicamento, muito valiosos
no acompanhamento de meus pacientes. Durante o curso, além do estudo
das bases filosóficas e clínico- terapêuticas da Medicina
Antroposófica, vivenciávamos as demais formas de abordagem
como a terapia artística, eurritmia, cantoterapia, massagem rítmica,
etc.
Em 1993, estagiei em São Paulo, na Clínica Tobias - Fundada
em 1969, composta de médicos e terapeutas antroposóficos
- , na Escola Rudolf Steiner (que segue pedagogia de orientação
Antroposófica) e na Casa do Sol instituição para
crianças que necessitam cuidados especiais -, onde pude comprovar
a eficácia desta abordagem do paciente considerando suas condições
físicas e anímicas, dentro de sua história de vida,
sua biografia. Também naquele ano, me submeti ao Trabalho Biográfico,
através do qual, baseado na filosofia da antroposofia, trabalhei
minha própria biografia, revendo o caminho por mim percorrido até
então e estabelecendo novas metas e perspectivas de realizações
pessoais e profissionais.
A partir de então, comecei a trabalhar com a Medicina Antroposófica
em consultório, a me tratar e também meus familiares dentro
desta linha terapêutica; meu filho estudou numa escola com orientação
da pedagogia antroposófica em Belo Horizonte, onde iniciei também
um trabalho como médica escolar.
Em 1996, já com 13 anos de formada, com uma vida profissional estabelecida,
me vi diante da possibilidade de trabalhar com a Medicina Antroposófica
no SUS-BH, através de um concurso público para médicos
homeopatas, acupunturistas e antroposóficos. Me senti animada a
reformular minhas atividades profissionais com a perspectiva de ampliar
o acesso à Medicina Antroposófica para toda população.
Como a mais nova das três práticas médicas do PRHOAMA
(medicina tradicional Chinesa, com mais de 5000 anos, a homeopatia, com
210 anos), a medicina antroposófica é ainda pouco conhecida
e acredito que fazer este trabalho numa instituição pública,
é uma das formas mais gratificantes e realizadoras de trazer e
ampliar a medicina antroposófica na vida cotidiana.
Já trabalhei na UBS Urucuia e atualmente trabalho na UBS Pilar/Olhos
D'Água, no Barreiro, onde além das consultas agendadas,
trabalho junto às escolas do bairro, numa constante troca com os
professores sobre a saúde e desenvolvimento dos alunos. Há
um ano participo, uma vez por semana, da coordenação do
PRHOAMA, procurando contribuir com a ampliação e aprofundamento
das trocas dos profissionais do PRHOAMA entre si e com o com os profissionais
do PSF. Em julho deste ano, iniciei curso de formação em
Terapia Artística, o que poderá se tornar, futuramente,
mais um instrumento
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