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3º ENCONTRO: surdez
Mediadora: Marília da Piedade Marinho Silva- Mestra em Educação
Convidada: Aparecida Rocha Rossi- Presidente da Federação
das Entidades de Surdos do Estado de Minas Gerais- FESEM
Dia: 05/09/2000
1º relato
Escola Municipal Agenor de Sena
Relato de uma experiência
com um aluno surdo
Introdução
A questão da surdez é complexa e
demanda muita pesquisa, avanços tecnológicos,
estudo, discussões e trocas de experiências
entre profissionais de diversas áreas.
Quando nos referimos à deficiência auditiva,
logo nos remetemos a sua principal conseqüência
e problemática: a comunicação. Sabemos da
sua importância para uma interação social rica
, satisfatória e para o conhecimento social
da realidade externa construído no decorrer da
história da humanidade.
A criança desde cedo vai se
"humanizando" através das trocas estabelecidas entre ela e
os adultos; as crianças mais velhas e os pares da
mesma idade. Levando-se em conta a dificuldade de
se comunicar e de estruturar uma linguagem típica
de uma sociedade ouvinte, podemos nos perguntar: como uma criança surda constrói a sua visão
do mundo? Pode uma pessoa surda estudar em um mesmo ambiente que um ouvinte? É possível uma
criança demonstrar sua capacidade de pensar e
ser incluída nos diferentes contextos sociais, sem ter
que utilizar o meio de comunicação da linguagem
falada ou escrita?" Há diferentes opiniões e
experiências para responder estas questões. Aliás, há muita
controvérsia quanto ao desenvolvimento e
ao processo educativo do surdo de modo geral. Mas
, uma coisa é certa, quanto mais cedo a criança for
estimulada e conseguir estabelecer uma forma mais eficiente de se comunicar com as pessoas,
melhor será o seu processo de desenvolvimento.
O aluno
É uma criança de seis anos que tem
cerca de 30% de audição em um ouvido e 0% no
outro. É filho de pais ouvintes e já nasceu com
esse problema.
O aluno chegou à Escola Municipal
Agenor de Sena este ano e foi enturmado em uma sala
de Educação Infantil com crianças da sua faixa
etária. Já tendo frequentado uma escola anteriormente.
Meu primeiro contato com ele foi
uma semana antes da greve ocorrida no 1º
semestre/2000. Neste período eu estava no nível 3 do
Curso de LIBRAS e já tinha interagido com
diversos adultos com diferentes níveis de surdez.
Considero este fato importante, pois foi um dos aspectos
que facilitou a minha aproximação junto ao aluno.
Desde o início conseguimos nos comunicar de alguma
forma e com o passar do tempo fomos nos conhecendo melhor e ampliando nossa comunicação .
No começo a sua forma de expressar
os pensamentos, os desejos e os sentimentos era
muito precária, pois sabia falar pouquíssimas
palavras, não sabia LIBRAS, não fazia leitura labial e
sua mímica era razoável. Fui introduzindo a LIBRAS,
o que foi muito enriquecedor, pois a partir daí
ele conseguiu estabelecer diálogos comigo ,
trocar idéias , ampliar a sua comunicação e a sua
mímica foi ficando mais expressiva. No momento, a sua
comunicação ainda é empobrecida. Mas
não podemos negar o quanto que ele avançou
em relação ao mês de abril.
Socialização
No início praticamente não interagia
com os outros colegas de sala. À medida que os
sinais foram sendo introduzidos para ele e para os
outros alunos, a sua socialização foi
melhorando sensivelmente. Em determinadas situações
ele mesmo ensina os sinais para os outros colegas e
as vezes troca pequenos diálogos com os mesmos.
Ex: fala com o colega que a sua figurinha sumiu. Que
a lata de giz de cera é para os dois usarem. Fala
para o colega sentar...
A sua interação com o outro , no
momento, ainda é caracterizada por uma certa
agressividade. Na minha opinião, isto ocorre em parte
pelos desenhos agressivos que assiste. Há também
um aspecto importante a ser considerado; o fato
dele não conseguir verbalizar, o faz muitas vezes ir
diretamente à ação, podendo assim parecer
um comportamento agressivo, quando na verdade é
sua forma de se comunicar. Ex: quando alguém
pega alguma coisa e ele não gosta, simplesmente ele
toma. Talvez, se falasse, ele poderia dizer que não
gostou, para o colega não pegar mais. Quando
quer balançar, ele naturalmente empurra o colega.
Se soubesse falar, poderia dizer que gostaria de balançar, que o colega já balançou e agora é a
vez dele...
Ultimamente tenho observado que com
as pessoas que ele se comunica melhor, ele se
mostra mais afetuoso.
Comportamento
O aluno é uma criança agitada,
esperta, inteligente e muito curiosa.
Reage frequentemente com choro
diante das frustrações. Necessita de um trabalho para
aprender a cuidar dos seus objetos pessoais,
pois perde muito as coisas. Assim como precisa ser trabalhado a questão do limite.
Esses comportamentos refletem muito a maneira pela
qual a família o trata. Segundo relato da tia, ele é
muito mimado porque é o primeiro neto e "tem
esse problema". Quando eles vão à cidade "tudo"
que ele quer eles compram, senão ele chora. Diz
que leva água no quarto para ele. O pai fala que
tudo que ele perde é reposto o mais rápido possível.
Esse tipo de reação é comum nas famílias que
têm crianças com deficiência, por isso é importante
uma orientação neste sentido junto às mesmas.
Aprendizagem
Ele é uma criança de seis anos que
chegou na Escola Municipal Agenor de Sena com uma experiência escolar anterior e com o
conhecimento construído no decorrer desses anos. Mas,
a impressão que tenho é de um contato muito
solitário e portanto empobrecido entre ele e o objeto
de conhecimento. A minha sensação na interação
com o aluno é a de que estou "apresentando" o
mundo a ele, estou mediando o contato dele com a realidade e com isso enriquecendo a sua
construção do mundo. E isso acontece por termos
a possibilidade de nos comunicarmos através
de mímicas e da LIBRAS.
As situações de aprendizagem que
tenho vivenciado com o aluno faz-me pensar que a exploração do ambiente, a vivência, com
a comunicação gestual e a repetição de
situações favorecem a sua compreensão das
circunstâncias do dia a dia.
O aluno realiza a maioria das atividades
desenvolvidas em sala. Entre outras coisas, reconhece e identifica a maioria das letras
do alfabeto português e do alfabeto manual.
Reconhece e identifica a maioria das cores e sabe os sinais
das mesmas. Sabe contar de 0 a 10. Tem a idéia de
quantidade e sabe os sinais dos numerais em LIBRAS. Demonstra ter domínio dos
conceitos grande/pequeno, pouco/muito, alto/baixo e grosso/fino. Apresenta uma
excelente discriminação visual. Já ocorreu em sala de aula o fato de somente
ele conseguir realizar uma atividade proposta que relacionava a habilidade de
discriminação visual e o raciocínio.
Na minha avaliação, considero que o
aluno está incluído nas atividades desenvolvidas na
escola cerca de 70%, pois não é sempre que
consigo transmitir para ele as idéias discutidas e
passadas em sala. E pelo fato de estarmos em um mundo
no qual a comunicação se dá basicamente através
da fala, não somos acostumados a utilizar
outros recursos de comunicação que possam atingir
as pessoas que não escutam.
Reações dos outros alunos
Primeiramente, foi de surpresa
por perceberem que o aluno com surdez era capaz de realizar as atividades da mesma forma que
eles. Depois curiosidade em aprender os sinais trabalhados e aprender outros que nem
foram ensinados em sala de aula. E por último,
ciúmes, por haver uma atenção especial direcionada para
o aluno. Tento explicar a demanda específica
de comunicação , tomando o cuidado para isso
não se tornar um motivo de discriminação.
Família
É muito importante o trabalho junto à
família de qualquer aluno. No caso referido, vejo
a necessidade desse contato principalmente em relação à uma linguagem mais unificada para que
a criança possa se comunicar de uma forma
estável e coerente na escola e em casa, favorecendo-a
em vários aspectos. Geralmente, as pessoas
com deficiência auditiva desenvolvem uma
linguagem doméstica que não é funcional em outros contextos
e portanto limita ainda mais a sua
comunicação. Também é preciso que a família continue e
até acrescente o trabalho desenvolvido na escola.
Além disso, como já foi citado anteriormente, é
importante trocar idéias com a família a respeito das
atitudes frente ao aluno, principalmente em relação
aos limites.
Dificuldades
· somente a professora referência
ter conhecimento da LIBRAS.
· ter os materiais afixados em paredes e
murais arrancados e pixados, pois eles são importantes, uma vez que o canal visual é
muito utilizado na aprendizagem pelas pessoas com surdez.
· falta de tempo e habilidade para
confeccionar os materiais necessários.
· o aluno ter pouco tempo na Sala de Recursos.
· transmitir as sutilezas e especificidades
das situações e do próprio conhecimento,
sendo que nem o aluno e nem a professora têm
o domínio da língua de sinais.
· não ter uma sala com o número menor de
alunos, pois o aluno requer uma maior atenção.
Reflexões
Imagino a hipótese de que se este
aluno estivesse junto de outras crianças surdas com
a mesma faixa etária dentro desta sala, a
sua comunicação e socialização fluiriam melhor
e consequentemente, a sua aprendizagem
avançaria mais, pois ele teria a oportunidade de trocar
idéias de uma forma mais rica e ampla.
No momento não é claro para mim, se
é mais produtivo para pessoa com deficiência
auditiva estar numa sala só de surdos ou incluído em
uma sala de ouvintes. Na minha opinião as
duas situações teriam ganhos e perdas. Na primeira,
o aluno teria um ambiente lingüístico totalmente
específico e um ritmo de ensino de acordo com
a sua demanda, porém o seu contato com
ouvintes seria restrito e não favoreceria uma inclusão
social no sentido mais amplo. Na segunda, o aluno
teria de certa forma materiais adaptados ,os quais
não atrapalhariam em nada a aprendizagem dos
outros alunos e estaria enriquecendo a sua comunicação
e trocando idéias com ouvintes. Porém, acredito que
o ritmo de aprendizagem dos surdos é mais
lento não por uma questão de inteligência, mas
pela dificuldade na estruturação da língua portuguesa
e o acesso mais limitado às relações sociais e
aos meios de comunicação que são
essencialmente mediados pela linguagem oral.
Penso ser fundamental para os
professores que trabalham com alunos surdos, terem
o conhecimento da LIBRAS e buscarem a melhor forma de proporcionar a construção
do conhecimento desse aluno. Além de
participarem de encontros como este, para trocarem idéias
e experiências, enriquecendo assim a sua
prática pedagógica.
Professora: Ana Paula de Assis Oliveira
Coordenação: Maria das Graças Fernandes
Direção: Roberto de Castro e Aneti Viana
2º relato
Escola Municipal Arthur Versiani Velloso
A Inclusão de Alunos Surdos
na Rede Regular
Introdução
As pessoas surdas têm na Língua
de Sinais, língua gestual visual, como língua natural.
A LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) não possui
uma escrita correspondente.
Se nós entendemos a linguagem
como constituinte e constituída pelo sujeito em
suas interações, a educação dos surdos no ensino
regular deve levar em consideração suas
diferenças sociolingüísticas.
Seria o caso de considerá-los como
pessoas estrangeiras?
Um estrangeiro que não domine a Língua
Portuguesa, no caso do Brasil, em um tempo relativamente curto pode vir a dominá-la e,
então, passar a freqüentar o ensino regular.
Um surdo pode aprender o Português
escrito e falado, este último com maior dificuldade,
porém seu desempenho nesta língua não será
suficiente, porque seu bloqueio auditivo não desaparecerá
por mais que venha conhecer sua estrutura e pronúncia.
Esta realidade os coloca na condição
de Cidadãos Brasileiros, bilíngües, com direito a
uma educação de qualidade, em todos os níveis e
que atenda as suas necessidades.
A inclusão dos Alunos Surdos,
com Professoras Auxiliares Intérpretes, a partir do
2º ciclo, na E.M. Arthur Versiani Velloso representa
o desafio de pensar a educação a partir da
diversidade cultural. Construir um Projeto
Político-Pedagógico que leve em conta as variações lingüísticas,
raciais, políticas e históricas dos sujeitos.
Um Breve Histórico do Projeto
Com o objetivo de garantir
a continuidade da vida acadêmica dos alunos
surdos que concluíam as 4 primeiras séries do
ensino fundamental nas Escolas Especiais, em 1993,
foi implantado na E.M. Arthur Versiani Velloso o Projeto Piloto de "Integração de Alunos Surdos
no Ensino Regular - 5ª a 8ª série - com
Professora Auxiliar Intérprete".
Este Projeto foi proposto pela Clínica
- escola FONO (Clínica conveniada com a SMEDBH) em parceria com a Secretaria
Municipal de Educação.
A proposta inicial do Projeto era
de Integração (preparação dos alunos para
se adaptarem ao modelo da escola regular), mas a presença dos alunos integrados desencadeou
o processo de inclusão (a escola muda para
atender as necessidades dos alunos que nela estudam).
Com a implantação da Escola Plural na
rede Municipal, em 1995, a E.M. Arthur Versiani
Velloso foi gradativamente se organizando em ciclos
de formação básica, passando a se organizar em 2º
e 3º ciclo , e Ensino Médio, ficando o título do
Projeto descontextualizado com relação à seriação.
Foi implantada, também, a Sala de
Recursos da Regional Centro Sul, onde os alunos passaram
a receber o atendimento complementar.
Em 1996, foi constituído um Grupo
de Estudos com a participação do CAPE (Centro
de Aperfeiçomento dos Profissionais da Educação),
o extinto Serviço de Ensino Especial,
Professoras Auxiliares Intérpretes, Professora da Sala
de Recursos da Regional Centro Sul, Clínica -
escola FONO e era aberto às pessoas envolvidas
no Projeto. Tinha como objetivo: aprofundar o conhecimento teórico sobre a surdez e a
pessoa surda e avaliar o Projeto desenvolvido na EMAVV.
O Grupo de Estudos culminou com
um Seminário realizado na EMAVV, aberto a
Comunidade Surda, Comunidade Escolar e
ao público interessado de um modo geral. A partir
dai, o Projeto vem tendo continuidade. Atualmente
conta com 24 alunos surdos incluídos, em 7 turmas,
do 2º ciclo ao Ensino Médio, com 5
Professoras Auxiliares Intérpretes.
Relato do Diretor da EMAVV
José Antônio Lucas Pereira
A minha experiência no Projeto de
Inclusão de Alunos Surdos na Escola Municipal
Arthur Versiani Velloso é registrada desde o início,
como Professor de Matemática, passando pela coordenação de turno e finalmente como
Diretor da EMAVV.
No primeiro ano do Projeto, como
professor, é necessário destacar a grande dificuldade
que tivemos frente a esse desafio. Estávamos
lidando com alunos completamente diferentes, não
tivemos a preparação, pedagógica e nem emocional
para esta nova tarefa. Entretanto, o grupo de
professores abraçou a proposta e hoje os alunos incluídos
estão presentes em todos os ciclos e no ensino
médio, num total de 7 turmas e destas 5, com a presença
da Professora Auxiliar Intérprete em Língua de
Sinais. Percebi, durante as minhas aulas, que os alunos tinham mais facilidade com a
Matemática, por se tratar de uma disciplina que utiliza
muitos símbolos, entretanto, a dificuldade era evidente
na interpretação dos problemas com
longos enunciados. A presença da professora
intérprete, no meu modo de entender é fundamental em todo
o processo.
Como Diretor da EMAVV, devo destacar
a importância da minha vivência anterior, fator
decisivo em minha luta pela continuidade do Projeto.
Um dos problemas mais sérios que tivemos durante
o desenvolvimento do projeto foi na época em
que os primeiros alunos surdos chegaram ao Ensino
Médio. A SMED entendia que sendo o
Ensino Médio responsabilidade do Estado o
atendimento ao aluno com professora intérprete seria
somente até o final do ensino fundamental. Além disso,
não havia professores interpretes disponíveis na
rede para assumirem novas turmas.
A presença da professora intérprete
é importante não só na sala de aula, mas também
no dia a dia, seja junto à direção ou participando
de eventos extra classe como excursões,
atividades no auditório etc. Não podemos esquecer que
esses alunos surdos, assim como os demais alunos,
têm problemas pessoais, familiares e também
se envolvem em atritos como os outros alunos.
Hoje temos a garantia de professora
intérprete para 5 turmas, uma política voltada para
formação de novos profissionais e o entendimento por
parte da SMED de que, sendo este um projeto de inclusão, nossos alunos devem ter a garantia
de matrícula até o final do Ensino Médio. Duas
turmas compostas por professores da rede Municipal e
por alguns alunos da EMAVV já estão participando
do curso de LIBRAS, realizado pelo CAPE em parceria com a FESEM (Federação das
Entidades de Surdos do Estado de Minas Gerais).
Outra decisão importante por parte da SMED
foi acatar nossa sugestão de implantação do
Projeto para outras regionais, facilitando assim a vida
dos alunos e ampliando a responsabilidade que,
até então era somente da EMAVV.
Finalmente, é necessário ressaltar
a importância e o alcance social desse Projeto.
Alguns alunos já estão no mercado de trabalho. Os
alunos surdos sentem-se valorizados pelos colegas
ouvintes e pelos professores, que hoje têm
um comportamento menos surpreso quando se trata de inclusão de alunos com deficiência na escola.
A presença destes alunos em uma sala de aula
causa no início muita curiosidade, que aos poucos
se transforma em solidariedade. Em nossa escola a
presença de alunos surdos já é considerada
uma rotina, mas é aconselhável que, a escola
que pretenda iniciar qualquer Projeto de Inclusão,
faça uma ampla discussão do caso como todos
os envolvidos e principalmente com a CPP (Coordenação de Política Pedagógica). Gostaria de
concluir dizendo que: a mudança de
metodologia hoje é uma necessidade, então porque
não aproveitá-la para uma mudança mais ampla,
onde todos possam ser beneficiados?
Relato de uma Professora para a Rede
de Trocas
Andréa de Meneses G. Pinheiro
Professora de Inglês da E.M. Arthur Versiani Velloso
No dia 05 setembro de 2000,
fui convidada a participar de uma mesa redonda
onde tive a oportunidade de relatar minha
experiência como professora de alunos surdos.
A platéia era composta por ouvintes e
não ouvintes e havia uma intérprete para estes últimos.
Sou Professora de Inglês e já no inicio de
meu relato fui logo dizendo que eu apenas conhecia três
dos símbolos de "LIBRAS": um que
corresponde à palavra INGLÊS outro a palavra FÁCIL e
outro, o último, a palavra DIFÍCIL. Mesmo sem
dominar a língua deles, faço me entender e tento
entendê-los através de gestos, sorrisos, caretas,
indicações de gravuras ou qualquer outra coisa que se
possa apontar. Nos comunicamos bem, de um modo geral.
A permanência de alunos surdos em
uma mesma sala de aula de alunos ouvintes, faz parte
de uma política educacional de INCLUSÃO, que
quer evitar qualquer tipo de segregação dos
deficientes bem como promover a socialização deles.
Como a presença de Intérprete de
LIBRAS não se dá em todas as situações do
cotidiano, indagaram sobre a importância da presença ou
não da mesma em sala de aula.
A minha resposta foi simples: o intérprete
é IMPRESCINDÍVEL bem como para aquela platéia,
naquele momento, era fundamental a presença
da intérprete que tornou possível o entendimento
de minha fala àquela parcela de pessoas surdas que
lá se encontrava.
Gostaria de lembrar ainda que não cabe
ao intérprete a única função de decodificar a
língua falada ou escrita em sinais compreendidos
pelos surdos, ele é a "ponte" entre o "mundo" que
o professor quer passar para os alunos e ao mesmo tempo serve de "filtro" entre os dois lados, por
isto, quanto maior for a formação do intérprete e
quanto maior for a sua visão holística do mundo,
melhor seguirá a mensagem que o professor quer e
precisa passar.
A Professora Auxiliar Interprete:
um Papel em Construção na E. M
Arthur Versiani Velloso
Andréa Ribeiro da Costa
Meire da Fonseca Melo Lima
Terezinha Fernandes Chaves
De acordo com a proposta inicial do
projeto, os alunos integrados seriam agrupados em
um espaço limitado a frente da sala, tendo
uma Professora Auxiliar interpretando os
conteúdos desenvolvidos pela Professora Regente.
Sabemos que as relações pedagógicas
não ocorrem desta maneira. A presença de um
professor a mais na sala de aula e de colegas
conversando em uma outra língua interfere na dinâmica da turma.
À medida que ia se dando as
interações, novos desafios eram colocados:
Tivemos que romper com a
concepção da educação tradicional, trabalhar sobre uma
nova lógica, onde o espaço da sala de aula não é
mais ocupado por um único professor. É preciso
contar com a abertura do Professor Regente e a flexibilidade da Professora Intérprete.
Foi preciso aprender compartilhar
nossas práticas pedagógicas no mesmo espaço e tempo,
a discutir metodologias e recursos pedagógicos.
O lugar da Professora Auxiliar Intérprete é
desafiador, exige uma postura ética com relação
ao Professor Regente, aos alunos em questão e
ao processo de ensino aprendizagem.
A presença da Professora Auxiliar se
torna necessária, principalmente, nos momentos em
que a linguagem oral é privilegiada na aula,
tornando-se mediadora na relação professor/ aluno
surdo/aluno ouvinte, possibilitando aos alunos
compreenderem o que está sendo dito e expressarem,
sem dificuldades de compreensão, a sua opinião.
Ser usuário de uma língua, a LIBRAS
(Língua de Sinais Brasileiras), e escrever em outra,
Língua Portuguesa, requer uma elaboração
que, compartilhada com a P. A. Intérprete e os
colegas surdos contribui para o domínio da Língua escrita.
A leitura exige uma complexa relação do
leitor com o texto e o contexto. Talvez esta seja a tarefa
mais delicada da P. A. Intérprete. É sabido que
a técnica de explorar pistas estimula o esforço
dos alunos em ler e interpretar, mas nas
intervenções deste tipo, corre-se o risco de antecipar
resultados ou subestimar a capacidade do aluno. Deixando
de expô-lo ao desafio de apresentar
propostas, soluções e dúvidas necessárias à construção
da leitura e escrita.
Por outro lado, o reconhecimento da
Língua de Sinais nem sempre é uma atitude fácil.
Implica uma condição de aprendiz por parte do
Professor. Este processo subverte um senso comum
do processo educativo escolar onde o professor é
o dono do saber. Na relação entre surdos e
ouvintes, os alunos surdos detêm o código privilegiado
da interação, a Língua de Sinais.
Finalmente, em todas as situações temos
que respeitar as duas línguas envolvidas no
processo de interpretação, ou seja, o Português e a
LIBRAS. Se queremos que o sujeito, surdo, tenha
sucesso no processo educacional, o papel da
Professora Auxiliar Intérprete, como mediadora, é buscar
conhecer o surdo, sua língua, sua cultura,
procurando escutá-lo como sujeito do
processo educativo, criando laços de confiança e
respeito mútuo.
Matéria publicada na GAZETA
EMAVV, jornal dos estudantes da E.M. Arthur
Versiani Velloso - ANO II - Número 3.
Sem preconceitos... sempre!
Em 1993 começou o projeto
de integração de surdos na nossa escola, com
4 alunos. Hoje a escola tem 24 alunos surdos integrados, do 2º ciclo ao ensino Médio.
Conversamos com um aluno da 7ªD que
é portador da surdez, veja a
entrevista:
"Eu nunca estudei em escola
especial, sempre estudei no ensino regular. Eu moro
perto da escola e fiquei sabendo que aqui tem um grupo de surdos com um intérprete. Gosto
muito de estudar aqui e de ter uma professora intérprete. Eu acho normal conviver com
colegas ouvintes, porque desde pequeno eu convivo
com eles. Não gosto de deboches em relação a
minha língua, e gostaria que os colegas
ouvintes aprendessem L.I.B.R.A.S. (Língua Brasileiras
de Sinais), porque eu tento fazer leitura labial (Português), que não é minha língua. Eu
acho muito importante esta troca".
Fabrizzio, 14 anos.
Nós conversamos também com um
aluno da EMAVV que já estudou em escola
especial, veja só:
"Fiz até a 4ª série em escola
especial. Prefiro essa escola (escola regular), na
escola especial eu sofria muito... os colegas da
escola especial falavam mal de mim, pareciam que
tinham inveja de mim porque tinha colegas
com muitas dificuldades para aprender.
Aqui na escola tenho os colegas
ouvintes e surdos que são legais comigo.
Estou muito triste, porque mudarei para
Governador Valadares... Sentirei muita saudade da EMAVV! ".
Gabriel 7ªD
Devemos respeitar mais as pessoas surdas, pois são iguais a
nós. Os surdos aprendem L.I.B.R.A.S. assim como nós aprendemos o português.
Não seja preconceituoso antes de conhecê-los melhor.
Caterina Blacher Picorelli e
Amanda Monteiro de Almeida - 32D
Direção:
José Antônio Lucas Pereira
Vinicius Natanael Ramos
Participação no Projeto, direta
ou indiretamente:
Comunidade Escolar da EMAVV.
Regional Centro Sul
CAPE
CPP / SMED / PMBH
Sala de Recursos da Regional Centro Sul
Clínica - escola FONO
Entidades de Surdos, que nossos alunos freqüentam ou que oferecem cursos de
LIBRAS para alunos e profissionais da EMAVV,
através do CAPE.
Funcionários do CEAVV.
BIBLIOGRAFIA
Ferreira Brito, Lucinda.
"Adaptações do
vestibular as necessidades
atuais dos surdos" in: Revista Integração, ano 7, Nº 18,
1997, págs 9 a 12.
Fonseca, Meire. "A integração de
Alunos Surdos no Ensino Regular da
PMBH" in: Anais - I Seminário Sobre Linguagem, Leitura
e Escrita de Surdos - 23 a 26 de março de 1998,
págs 175 a 181- Auditório FaE/ UFMG -
Belo
Horizonte- MG - Promoção CEALE/FaE/UFMG.
Projeto Piloto - "Integração de Surdos
no Ensino Regular - 5ª a 8ª série
- com Professora Auxiliar Intérprete de Língua de
Sinais" - 1992. Clínica Escola FONO/ SMED. Belo Horizonte
-MG.
Relatos de Experiências do Projeto
Piloto dos anos de 1993 a 2000 - SMEDBH/PP / CAPE, Professoras Auxiliares Intérpretes,
Clinica - escola FONO e Escola Municipal Arthur Versiani Velloso.
SKLIAR, Carlos (Org. II.) - "Educação
e Exclusão: Abordagens Sócio - antropológicas em Educação
Especial"- Porto Alegre: Mediação, 1997.
153 p.(Caderno de Autoria).
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