Rede Trocas

Apresentação

A formação do(a) educador(a) constitui-se em um processo no qual a pesquisa, a leitura e a reflexão sobre a prática pedagógica representam movimentos centrais na busca de uma educação que dialoga com os desafios de nosso tempo.

A aprendizagem nos diferentes espaços que compõem a escola, ocorre a partir da interação com o outro. Essa interação que nos causa tantas questões, dúvidas, problematizações... é, também, realidade que nos faz querer conhecer e entender mais sobre a diversidade existente no espaço escolar.

Partindo dessas inquietações e tendo como objetivo criar um espaço coletivo de interlocução entre as diferentes escolas municipais, é que o Centro de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação - CAPE, propôs a Rede de Trocas como uma de suas estratégias de formação.

A Rede de Trocas configura-se como uma ação que pretende o relato, a reflexão, a análise e o debate sobre diferentes experiências, os processos vivenciados pelas escolas e a problematização do ato educativo. Além disso, esta ação tem como objetivo "criar redes coletivas de trabalho" (António Novoa) que contribuam para uma nova cultura entre os profissionais da educação, permitindo uma partilha de saberes interativa e dinâmica.

O Grupo de Trabalho Educação Especial do CAPE em parceria com as Equipes Pedagógicas das Regionais, Salas de Recursos e Centros de Educação Infantil- CEI, vem acompanhando o processo de inclusão de alunos com deficiência em várias escolas da rede, desenvolvendo ações de formação com o coletivo de profissionais e/ou discussões específicas com os(as) professores(as) referência dos alunos incluídos.

Neste trabalho, temos observado que os profissionais da educação, às vezes, buscam no saber médico respostas para a prática pedagógica, conhecimento sobre o processo de aprendizagem e desenvolvimento e, a função da escola na vida dos alunos incluídos. Isto se deve, sobretudo, a formação inicial do profissional da educação, que não possibilitou a discussão do trabalho com as diferenças.

Contudo, a Inclusão é um tema relativamente novo, pois a história da Educação e da sociedade brasileira sempre foi marcada pela exclusão.

A representação da sociedade sobre a pessoa com deficiência, vem se modificando. A partir do final do Século XX, através da luta e organização das famílias das pessoas com deficiência e delas próprias e as influências destes movimentos nas práticas sociais, aponta-se a necessidade de uma escola aberta a todos, independente de suas particularidades ou singularidades:

"(...) as escolas devem acolher todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Devem acolher crianças com deficiências e bem dotadas; crianças que vivem nas ruas e que trabalham; crianças de populações distantes ou nômade; crianças de minorias linguísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos ou zonas desfavorecidos ou marginalizados. (...) O desafio que enfrentam as escolas integradoras é o de desenvolver uma pedagogia centralizada na criança, capaz de educar com sucesso todos os meninos e meninas inclusive os que possuam deficiências graves. O mérito dessas escolas não está só na capacidade de dispensar educação de qualidade a todas as crianças; com sua criação, dá-se um passo muito importante para tentar mudar atitudes de discriminação, criar comunidades que acolham a todos e sociedades integradoras." (Salamanca:1994 p.18)

Este compromisso, aponta para o conceito de Educação Inclusiva que postula que todos podem aprender, que deve-se respeitar o ritmo e os processos de aprendizagem, e a construção de uma escola com estrutura flexível atenta às potencialidades e necessidades dos alunos.

Neste contexto, se insere a Política da Rede Municipal de Educação, materializada no Programa Escola Plural, que tem como princípio assegurar a inclusão escolar de todas as crianças. Essa política vem contribuindo para o crescimento do número de alunos com deficiência, incluídos nas escolas municipais.

A Inclusão é um processo que precisa ser discutido e pensado coletivamente por toda comunidade escolar, uma vez que se constitui um movimento de mudança da sociedade.

Neste sentido, a Rede de Trocas: Inclusão Escolar - A Rede constrói possibilidades, realizada durante este ano, proporcionou a discussão teórica a partir do relato do percurso escolar de alunos com deficiência incluídos na escola regular, apostando na perspectiva que "a troca de experiência e a partilha de saberes consolidam espaços de formação mútuos, nos quais cada professor é chamado a desempenhar, simultaneamente, o papel de formador e formando" (António Novoa).

Foram realizados 5 encontros, nos quais contamos com relatos de experiência de inclusão de alunos com os seguintes quadros, respectivamente: Paralisia Cerebral, Síndrome de Down, Surdez, Deficiência Visual e Autismo. Os relatos foram mediados por profissionais que fazem a interlocução entre a Saúde e Educação e foram debatidos pelos participantes dos encontros.

Este Caderno propõe o registro e a divulgação destas experiências retratando as angústias, dificuldades e alternativas apontadas pelos profissionais da Rede Municipal, representando os desafios e avanços rumo a uma educação inclusiva.

 

SUMÁRIO