CAPE - CONTINUANDO
E CONSTRUINDO SUA HISTÓRIA
A criação do Centro de Aperfeiçoamento dos Profissionais da
Educação da Rede Municipal de Belo Horizonte - CAPE - orientou-se
a partir de duas influências fundamentais que marcam significativamente
suas ações.
A primeira vem dos movimentos sociais. Estes têm demandado o
alargamento da função social da escola pública, o que vem provocando
não só a expansão do atendimento à escolaridade básica, mas
também a exigência de qualidade nesse atendimento.
A segunda é a ressonância do movimento de reivindicação dos
trabalhadores em educação. A partir dela, esses profissionais
vêm se constituindo como sujeitos de direitos à qualificação,
à realização de pesquisas, a tempos para a formação e para a
produção coletiva. Para o professor, isso significa um redimensionamento/reestruturação
da prática pedagógica.
Resultado das deliberações do I Congresso Político Pedagógico
da Rede Municipal de Ensino (RME), o CAPE, desde sua criação
em outubro de 1991, tem atuado no sentido de se tornar uma instância
de promoção da formação continuada e em serviço. Isso se traduz
no atendimento e apoio aos professores em suas necessidades
emergenciais de orientação tecnopedagógica no cotidiano da prática
de sala de aula, propiciando a esses profissionais condições
e possibilidades para a elaboração de projetos político-pedagógicos
coletivos. Estes têm como características básicas a inclusão
social e a busca de um ensino de qualidade à população de Belo
Horizonte.
O CAPE, órgão da SMED responsável pela construção da política
da formação, norteia suas ações em consonância com o Programa
Escola Plural. Essa política de formação compreende três características
básicas.
A primeira é o entendimento da formação como direito do profissional
da educação, em conformidade com a história da criação da Escola
Plural e com a construção da identidade pessoal e profissional
dos trabalhadores em educação da RME. Essa formação profissional
deve ter caráter continuado e em serviço.
A segunda é a valorização da escola como lugar da formação profissional.
Partindo da reflexão e problematização da prática pedagógica,
dos saberes escolares, da cultura do professor e da escola,
poderemos estar investindo na formação profissional. Cabe ao
CAPE discutir com a própria RME como encarar esse desafio de
discutir a formação em serviço na escola.
A terceira característica é a compreensão de que o CAPE é um
espaço de formação de formadores. Os profissionais que atuam
no CAPE são professores da RME, os quais, de outro lugar - o
CAPE -, buscam a autoformação para formar colegas que estão
na sala de aula a partir das demandas dos coletivos das escolas.
Para entrar no CAPE, eles passam por um processo de seleção.
Isso também marca um diferencial em relação a outros centros
de formação, pois os professores não perdem a referência da
escola uma vez que a ela retornarão. Os professores se submetem
a avaliações periódicas e sistemáticas e nenhum professor tem
lotação definitiva no CAPE. Nesse movimento, o quadro de profissionais
do CAPE sofre alterações permanentes, garantindo sempre um olhar
de dentro da RME sobre si mesma. Nomeando faltas e carências,
eles pesquisam e buscam assessorias para dar retorno às escolas
e para formular cadernos temáticos e outras publicações.
O Programa Escola Plural foi implantado a partir de algumas
características específicas da RME. Isso faz com que o programa
tenha peculiaridades que o diferenciam de outros programas que
vêm sendo implantados no país. Dentre elas, podemos destacar
a forma como o programa surgiu e a maneira como foi implantado.
O programa foi concebido a partir das experiências significativas
da RME mediante práticas transgressoras. Transgressoras porque
eram ações que se contrapunham à lógica da organização escolar
hierarquizada, burocratizada e excludente. O programa constituiu
uma tentativa de captar um redirecionamento coletivo para toda
RME. Orienta o programa o pressuposto central do direito à educação
sem interrupção, que se desdobra em vários eixos norteadores.
No programa Escola Plural, professores e alunos são entendidos
como sujeitos socioculturais, detentores de uma cultura que
não pode ser desconsiderada. Essa cultura deve ser assumida
e permear o processo de formação. Nessa perspectiva, não caberia
um curso para uma formação anterior ao processo de implantação
e sim uma formação no processo. Portanto, o CAPE tem a função
de, observando o movimento das escolas, gestar e elaborar a
política de formação para os profissionais de educação da RME,
explicitando que não é o único lugar da formação. Sua história
e o próprio Programa exigem uma outra concepção que o diferencie
de um serviço terceirizado, onde se pudessem encomendar cursos.
Os pressupostos da Escola Plural, por si só, exigem uma concepção
de formação diferenciada, pois não caberia no programa um curso
que treinasse ou reciclasse os profissionais da educação para
se tornarem "plurais".
Considerando os princípios da formação como direito e da formação
continuada e em serviço, o CAPE realiza uma série de ações de
formação que poderiam estar agrupadas de diferentes maneiras.
Optamos pela seguinte:
1- Ações de
formação continuada, de longa duração:
- Curso
de Aperfeiçoamento da Prática Pedagógica - CAPP -
é uma proposta de formação individual que busca a reflexão
sobre os problemas da prática, a ampliação e atualização dos
conhecimentos na área educacional, incluindo a apresentação
de relatórios e, como conclusão do curso, a realização de
um projeto de trabalho. Esse curso é destinado a todos os
profissionais da RME. Em março de 1998, estaremos iniciando
a terceira turma, com aproximadamente 270 alunos e com duração
de 180 horas/aula.
2- Ações de
formação continuada, de curta duração:
- Curso
para bibliotecários e auxiliares de biblioteca (em parceria
com a Coordenadoria de Bibliotecas) -
Já iniciamos o primeiro módulo de trabalho com 185 profissionais
recém-admitidos pela PBH que, dentro do Programa de Revitalização
das Bibliotecas Escolares e criação das bibliotecas pólo,
terão um papel importante como promotores culturais. No Programa
Escola Plural, o acesso às várias fontes de conhecimento,
seleção e uso de múltiplas linguagens por parte do educando
justificam a formação especializada desses novos profissionais
que fazem parte da carreira do magistério.
- Curso
para coordenadores pedagógicos -
No programa Escola Plural, a Coordenação Pedagógica exerce
um papel muito importante no processo pedagógico. Diretores,
especialistas e professores eleitos constituem parceiros fortes
na consolidação do programa. Haverá uma continuidade dos encontros
que visam construir relações mais democráticas no interior
da escola, assim como avanços na prática pedagógica
3-
Publicações:
- Jornal
do CAPE -
O Jornal Carpe Diem passou a ter um outro formato e uma função
diferente em 1997. Ele passa a ser um veículo de informação
sobre as ações do CAPE, anunciando eventos ou se pronunciando
sobre eles. A periodicidade passou a ser mensal e sua programação
visual tem uma linguagem curta e de fácil leitura.
- Revista
do CAPE -
Fruto do I Seminário Interno do CAPE - em fevereiro de 1997,
a produção de uma revista passou a ser objeto de estudo e
trabalho. O nome é Tessituras. Cada número da revista terá
discute um tema relativo à Escola Plural na perspectiva de
produções dos professores que atuam no CAPE, nas escolas da
RME e de outras instituições. O primeiro número discute a
formação de professores e o lançamento previsto do primeiro
número será em março de 1998.
4-
Ações nas Escolas:
- CAPE
Itinerante -
As oficinas do CAPE Itinerante são realizadas a partir das
demandas das escolas e são reformuladas a partir de novas
discussões emergentes da própria RME. Objetivam atender ao
coletivo da escola em questões pontuais que problematizam
a prática pedagógica. O tempo e a duração variam em virtude
do próprio tema ou da necessidade da escola.
-
Acompanhamento às Escolas:
Busca o atendimento e apoio aos professores em suas necessidades
no cotidiano de sua prática, envolvendo o levantamento de
dados para reflexão das ações de formação do CAPE com a perspectiva
de investigação de demandas, de produção de material e de
discussão com a escola sobre sua política de formação.
5-
Ciclo de debates:
A Universidade vem produzindo, sobretudo através de dissertações
de Mestrado e Doutorado, valioso material sobre a Escola Plural
que certamente tem muito a contribuir na leitura sobre o fazer
na RME. São encontros mensais com cada um dos autores dessas
dissertações para que a própria RME se aproprie desse conhecimento
e discuta esse olhar que o pesquisador tem sobre sua prática
pedagógica.
6-
Palestras, intercâmbios de experiências, rodas de debate:
São frentes de trabalho que incentivam a circulação de informações,
troca de experiências entre indivíduos e entre organizações
internas e externas à RME. Em 1997, já discutimos a LDB, Lesão
por Esforço Repetitivo - LER -, Educação e Cidadania, Intercâmbios
em Educação Infantil, Meio-Ambiente, Utilização Correta da Voz,
Roda de Debate da Educação Infantil, etc. São eventos que ocorrem
como culminância das ações de acompanhamento às escolas e visam
analisar e encontrar soluções para os problemas enfrentados
no cotidiano.
7-
Fóruns e Grupos de Trabalho com as equipes regionais:
ocorrem para levantamento de demandas e definições das políticas
de formação.
A política de formação dos profissionais em Educação adotada
pelo CAPE transcende uma capacitação meramente técnica, atingindo
a mudança de postura, de valores, de compromisso com a inserção
social e com o bem público. Ela vem tendo reconhecimento não
só da Rede Municipal de Belo Horizonte, mas também de outras
secretarias e centros de formação. A história da RME e a tentativa
de construir a própria história do CAPE revelam a relação de
parceria, de troca, de cumplicidade que este centro mantém com
a RME.
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