Criado a partir da reunião de dois festivais - um de teatro de rua, o Festin, realizado pelo Grupo Galpão; outro de palco, projetado por Carlos Rocha, diretor do Teatro Francisco Nunes - o Festival Internacional de Teatro Palco & Rua de Belo Horizonte (FIT-BH) realizou sua primeira edição em 1994.

A proposta era apresentar, de dois em dois anos, uma amostra expressiva da diversidade de propostas do teatro produzido contemporaneamente no Brasil e no mundo. Promovido pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, através da Secretaria Municipal de Cultura, o primeiro FIT-BH se materializou em 92 apresentações - 38 de palco e 54 de rua.
Além de seu formato único no mundo dos festivais internacionais, com a busca de pesos iguais para palco e rua, e incorporação de espaços alternativos, o FIT-BH adota, desde sua origem, a descentralização de sua programação, levando espetáculos para todas as nove regionais administrativas que compõem a cidade de Belo Horizonte. Descentralização essa que somada à política de preços populares dos ingressos para os espaços fechados, redunda numa ampla democratização de acesso ao evento, alavancas fundamentais para o seu êxito.

Nessa primeira edição, alguns grupos marcaram fortemente sua passagem pela cidade, como o francês Générik Vapeur, com seu espetáculo "Bivouac", intervenção que tomou de assalto as ruas de Belo Horizonte e o Macunaíma, que trouxe à capital mineira, pela primeira vez, uma pequena retrospectiva do trabalho do diretor Antunes Filho, um dos grandes autores do teatro brasileiro. Com rápida adesão da população, o FIT-BH/94 superou as expectativas, tendo um público total estimado em 54 mil pessoas.

Buscando ampliar sua programação e descentralizar ainda mais o acesso do público, o FIT-BH/96 cresceu de 11 para 15 dias de duração e, além de levar espetáculos a todas as regiões da capital, alcançou as cidades de Mariana, Betim e Contagem, na Grande BH. Com 31 espetáculos desdobrados em 117 apresentações, a segunda edição do FIT atingiu um público direto de 133 mil pessoas. A qualidade da programação atingiu seu ápice em espetáculos inesquecíveis como "Noite de Reis", com o Backa Theatre (Suécia), "A Corte dos Vagabundos", com o Flash Marionnettes (França) e "Viagem ao Centro da Terra", com o La Troppa (Chile).
Em 97, em comemoração aos 100 anos de Belo Horizonte, foi realizada a Edição Especial do Centenário - o FIT-BH/97. Mais compacto, procurou manter uma programação expressiva e homenagear alguns grupos que marcaram, com sua participação, edições anteriores. O Générik Vapeur voltou à cidade com "Bivouac" e com o então inédito "Coche Porque? Porque Coche?", criação inspirada no trânsito caótico de Belo Horizonte. Também bisaram os franceses do Flash Marionnettes e os espanhóis Boni & Caroli que, devido ao sucesso em 1996, voltaram para percorrer todas as regionais.

Em sua quarta edição, em 1998, o FIT-BH ampliou o leque da mostra de espetáculos, trazendo, pela primeira vez, produções da Ásia, África e Cuba. A iniciativa respondeu a um desejo norteador da programação do Festival - o de proporcionar ao seu público a oportunidade de entrar em contato com as mais variadas tendências de expressão nas artes cênicas contemporâneas. Com a agenda reduzida para onze dias, o Festival encontrou seu formato mais apropriado, livre de carências e de excessos. Já na abertura, o grupo francês Plasticiens Volants mobilizou um público estimado em 1.000 pessoas que, extasiadas, conduziram "Ézili", enorme criatura inflável, por vários quarteirões da cidade. O Plasticiens Volants voltou a encantar o público com o espetáculo "Dom Quixote", um verdadeiro desafio às leis da gravidade, que teve os espectadores como cúmplices.
O entusiasmo com que as platéias acompanharam cada etapa dessa maratona demonstrou, uma vez mais, que Belo Horizonte adora render-se ao encantamento do teatro.

A 5ª edição do FIT-BH Palco & Rua, realizada em agosto de 2000, ofereceu ao público uma grade com 102 apresentações de 23 espetáculos, sendo dez produções nacionais e 13 internacionais, de nove diferentes países (Chile, Colômbia, Espanha, Itália, Suíça, França, Polônia, China, Singapura).
Diversas linguagens teatrais estiveram representadas e conquistaram o aplauso de um público estimado em 120 mil pessoas (aí incluídos também os participantes de todos os eventos especiais: oficinas, exposição, demonstrações de trabalho, sessão de vídeo e Mostra Off ).
Acostumado a acompanhar em cortejo, pelas ruas de Belo Horizonte, espetáculos de abertura grandiosos e barulhentos, o público foi surpreendido nesse ano, com a montagem, em plena rua, de um espetáculo de árias da tradicional ópera chinesa, apresentado pelo Chinese Theatre Circle, de Singapura. A reação foi um misto de estranhamento e encantamento. O circo tradicional (Irmãos Simões) e o Novo Circo Francês (Convoi Exceptionnel), o teatro físico associado ao pensamento de Jerzy Grotowsky (Studium Teatralne, Centro Pondetera Teatro), o fazer teatral encarado como processo de resistência (Teatro La Candelaria) e a comédia em seu sentido mais leve e imediato (Compagnie Agitex), entre outros exemplos, conviveram, durante onze dias, num encontro artístico em sentido pleno - o da interação com o público, o da reflexão sobre seu próprio sentido e o do impulso a novas criações.
Essa edição consolidou o Festival Internacional de Teatro Palco & Rua de Belo Horizonte como a iniciativa cultural de maior respaldo popular da Prefeitura da capital. E ressaltou, mais uma vez, o acerto de seus objetivos - formar (e informar) público para as artes cênicas, com uma linha curatorial assentada na "qualidade com diversidade".